Era véspera de feriado, pessoas desciam para as cidades
litorâneas mais próximas, a metrópole estava ficando vazia, trajetos antes
feitos em uma hora, agora poderiam ser feitos em vinte minutos. Jamile era uma
garota linda, independente com apenas dezenove anos de idade, tinhas cabelos louros
caramelados e olho azuis. Mas infelizmente teria de ficar no escritório da
empresa onde trabalhava até mais tarde, para evitar que se acumule trabalho
antes de suas férias. Estava feliz por poder ir trabalhar
com silêncio, uma vez que toda a sua divisão estaria dispensada naquele
dia.
Logo que acordou, fez sua higiene
vestiu uma calça jeans, coisa que desde o ensino médio não fazia, pôs uma
camiseta xadrez vermelha e não abotoou o botão mais alto, coisa que há tempos
também não fazia, e para completar calçou seu tênis AllStar púrpura, prendeu seu cabelo com uma tiara de flor e pôs
seus óculos. Após um café da manhã rápido ela descobriu que estava atrasada.
Como num pulo, saiu e trancou o seu apartamento, onde morava sozinha em um
bairro nobre da cidade. Na garagem ela entra no seu Sedan, um carro caro para
os padrões sociais, que retirara ha uma semana da concessionária, mas o mesmo
não funcionava, como estava atrasada demais decidiu ir de ônibus.
Ao sair na rua algo como um silvo
indescritível arrepiou sua pele, dando a ela uma sensação de insegurança que tomou
conta de todo o seu corpo, junto com uma sensação de vazio que só havia sentido
uma vez, quando seu noivo a abandonara na porta do altar, um ano atrás. Como
que por instinto ela correu para o ponto de ônibus e acenou para o primeiro a
aparecer, que por coincidência era o seu. O ônibus estava deserto, para ela era
incrível entrar e poder escolher que banco sentar, mas preferiu ir para o fundo
já que viu “cara de poucos amigos” por parte do motorista e de seu cobrador.
Chegando ao trabalho a sensação de insegurança se uniu ao
sentimento de perseguição, sempre que ela entreolhava, via uma sombra a
seguindo , mas sempre que olhava aquilo cessava. Após horas de trabalho
adentrando a noite ela decidiu dar um tempo para si mesma, ela não gostava de
sair com amigas, na verdade não possuía amigas. Jamile preferia exercitar seus
hobbies favoritos para si mesma que eram cozinhar e degustar um bom vinho,
sempre acompanhados de uma boa música.
Na volta do
trabalho, aquela mesma sensação de insegurança na rua, voltando exatamente no
mesmo ônibus que havia ido, com os mesmos motorista e cobrador desgostosos que
havia ido pela manhã retoorna. Até que o motorista para na frente de uma praça
há aproximadamente oito quadras de seu prédio com o primeiro sorriso de canto
de rosto que Jamile viu o mesmo esboçar – quem sabe até o primeiro do dia – e
diz:
- Moça o ônibus recolhe aqui, adoraria leva-la
mais longe mas infelizmente temos horário a cumprir, é aniversário do meu filho
– Disse o motorista, mostrando um semblante de cansaço e entusiasmo.
- Tudo bem! – diz Jamile – Entendo que precisa
descançar, eu vou andando... preciso de um tempo para pensar um pouco
- Você quem sabe, só tome cuidado que uma
garota bonita como você é um alvo fácil para qualquer aproveitador – conclui o
cobrador
Após descer
no Onibus o cenário que ela vê é faroéstico, um balanço se mexendo sozinho por
causa do vento, a pista de Skate vazia e
os bancos onde haviam centenas de pessoas, senhores jogando xadrez, crianças
brincando e casais namorando estavam todos vazios, aquela sensação de vazio
somada a sensação de perseguição estavam resultando na sensação de perigo e
pânico, que ela sabia maestralmente disfarçar. Começa andar, vê seu prédio ao
longe com algumas luzes acesas e o caminho parcialmente iluminado conforme vai
andando, ela percebe uma sensação de frio chegando perto de si, um fenômeno até
anormal, pois o dia foi todo com temperaturas elevadíssimas. A cada metro que
avançava, a cada paço que dava, a cara lufada de ar que tocava seus olhos e seu
rosto ela ouvia o compasso de seu coração, uma sensação angustiante para
qualquer pessoa, até que aproximadamente cinquenta metros depois o poste mais
próximo a si começa a piscar, cada vez que ela chega mais perto ele pisca com
uma frenesia musical e apaga, ritimicamente um após o outro vai se apagando com
o pulsar negro que dava a falta de luz.
No penúltimo
poste ela é atingida por um golpe de ar, que faz o lenço branco que estava em
seu bolso voar alguns metros para traz. Quando ela recua, vê que este poste
parou de piscar, e o anterior que já estava apagado volta a piscar
freneticamente. Avançando alguns metros ela percebe uma coisa assustadora: a
“falta de luz” a perseguia, no avançar de seus passos o poste anterior se
apaga, e o que está em sua frente começa a piscar, recuando um ou dois paços
grandes novamente o poste anterior volta a piscar e o poste em sua frente fica
com luz fixa.
Presa em seus
pensamentos, ela lembra de sua infância e começa a gritar, em sua mente a frase
“ele não voltou, ele está morto!” diversas e diversas vezes eis que surge uma
voz que faz o dorso de sua espinha tremer. [CONTINUA]